sábado, 13 de julho de 2013

Contornos da dependência

Cresci no campo, no meio das árvores, do canto dos pássaros e dos trabalhos agrícolas para consumo próprio. Aprendi os nomes dos bichos da terra, não pelos livros  mas por conviver com eles de perto.
Ia a pé para a escola primária, sozinho claro, quanto muito tendo por companhia a lua, e aprendi a reconhecer sapos, salamandras, cobras, licranços e libelinhas.
Lembro-me de ser criança e admirar as grandes árvores, um enorme pinheiro-manso que existia a meio caminho entre a casa e a escola, ou de um enorme carvalho que havia perto de casa, onde mais tarde, já em adulto, ainda cheguei a fazer um piquenique.
Mas apesar de todo este ambiente favorável, não creio que o meio onde nascemos seja primordial na influência de nos deixar o bichinho pelo gosto da natureza. Até porque a meio da adolescência fui estudar para a cidade e poderia rapidamente tornar-me num urbano-depressivo. Mas não, apesar da vida na cidade ter os seus atrativos e seduzir bastante mas nunca deixei de preferir a qualidade de vida no campo.

Entretanto nos últimos anos o gosto tornou-se vício e isso vê-se na quantidade de diferentes plantas que tenho vindo a juntar nas traseiras da minha casa. Chego mesmo a trazer plantas que encontro em lixeiras, ou abandonadas em qualquer sítio se gosto delas ou acho que têm potencial; recolho até baldes ou bidões que encontro para servirem de vaso, e sei perfeitamente que isto pode ser visto pelos outros como sinal de insanidade, mas verdade seja dita, também nunca me preocupei minimamente com o que pensam de mim! Se fôssemos a viver em função do que os outros gostam bem nunca faríamos nada do que nós gostamos.

Comecei também a dedicar-me horas a fio ao terreno de minha casa para que um dia se possa parecer com um jardim. Aos poucos comecei a modificar as coisas, não é fácil, por um lado porque é como tentar pintar uma tela em branco sem ter sido nunca pintor, por outro, fazer tantas coisas para uma só pessoa. Mas o trabalho também não é cego e o que é preciso é meter mãos à obra, e quem me conhece sabe que eu sou muito persistente, obsessivo quase, e aos poucos o trabalho vai aparecendo feito, e é depois com enorme satisfação, e algum orgulho por vezes, quando vejo o meu trabalho começar a dar frutos.

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