quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Azevinho - Florir fora d'horas

Estamos no fim de outubro e os frutos dos meus azevinhos começam agora a exibir um vermelho vivo e brilhante.



Dão flor na primavera e logo a seguir as fêmeas dão os frutos, que permanecem verdes durante todo o verão e amadurecerão até ao inverno. Mas é curioso que ofereci um azevinho dos meus a uma amiga, e que floriu a primeira vez este ano, e ela diz-me que ele tem estado continuamente a dar flores ao longo do ano. Talvez seja por ser o primeiro ano, ainda não fiz essa análise, mas acontece que tenho dois azevinhos em vaso, um macho e uma fêmea, que deram flor precisamente agora em pleno outono!

Flor azevinho macho

Flor azevinho fêmea
Não sei o que despoletará esta floração, tanto durante todo o ano no caso do azevinho da minha amiga, quer como nestes dois azevinhos, que floriram ao mesmo tempo agora no outono. Poderia pensar que terá sido uma questão do tempo que fez, mas na verdade também tenho muitos mais em vaso que não floriram e o tempo foi o mesmo para todos. Também não sei como se comportará um azevinho, seja macho ou fêmea, que esteja isolado e não seja polinizado. Resta-me estar atento a ver se descubro mais particularidades deste admirável mundo secreto dos azevinhos!

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Aprendiz de Mr. Miyagi

Estou em crer que a primeira vez que ouvi falar de bonsai foi no filme Karate Kid. O filme é de 1984, cá terá passado na televisão anos mais tarde. Agora é que um filme está em cartaz e por vezes meses depois já passa na televisão, mas nos anos oitenta não era assim. Estou em crer que teria 13/14 anos quando vi o filme na RTP. 

Nesse filme, o protagonista, um adolescente que cai nas boas graças da menina bonita, rapidamente passa a ser o alvo do grupinho dos rufias lá do sítio. Até que por acaso conhece Mr. Miyagi, um senhor asiático de cabelos brancos muito simpático, de aspeto bonacheirão, muito pacato que, ora passa a vida a tentar apanhar moscas com pauzinhos ora a podar os seus bonsais!

A verdade é que, culpa do filme ou não, os bonsais sempre me fascinaram. O curioso é que nunca comprei nenhum para mim mas acabei mesmo por receber um de prenda no meu vigésimo quinto aniversário. Foi o meu primeiro bonsai, um ulmeiro (Ulmus parvifolia) provavelmente a espécie mais comercializada, e que mantive de perfeita saúde até aos dias de hoje. Vários transplantes e mudanças de vaso depois está assim:

Ulmeiro (Ulmus parvifolia)
Mais recentemente comecei a interessar-me por criar os meus próprios bonsais. Não é propriamente fácil. Mais do que dominar as técnicas mas é preciso ser-se criativo, é a diferença entre interpretar e ter jeito para compor, e é nisso que ainda me sinto muito verde. Mas é experimentando, errando a aprendendo que vamos evoluindo, e aos poucos acho que vou melhorando.

Como já contei no artigo sobre o azevinho, tentei criar um bonsai a partir desta espécie porque tenho dezenas deles, portanto nada melhor que começar com o que se tem à mão! Em ano e meio a evolução foi esta:


Azevinho (Ilex aquifolium)
Há algum tempo vi que uma azálea enorme da minha mãe tinha um pequeno rebento junto ao solo, e de imediato resolvi arrancá-lo para ficar para mim, para plantar no meu jardim, ou quem sabe tentar fazer dali um bonsai. Acabei mesmo por destiná-la para bonsai, e ainda estou a tentar, esperando que vá resultar. A pobre azálea já passou por alguns imprevistos, mas vamos ver como continuará a evoluir. Comecei por colocá-la num vaso de barro para engrossar um pouco:

Azálea
Mais tarde podei-a mas sofreu o primeiro imprevisto, enquanto transportava uma pedra, deixei-a cair por cima do vaso e parti-lhe  um bocado, mas o pior foi que quase parti a azálea, e esgaçou parte do tronco, então coloquei um bocado de borracha à volta e amarrei com um arame:


Há umas semanas resolvi transplantá-la, desbastar as raízes e meti num vaso de bonsai, que apesar de pequeno para o efeito lá teve de servir. No transplante ocorreu o segundo imprevisto, e sem querer parti-lhe o rebento que estava no topo, mas pronto entretanto já está a puxar novos rebentos de novo, não será grande problema espero.


Entretanto tinha um cotoneaster (Cotoneaster horizontalis) que é uma planta arbustiva rasteira muito usada para cobertura de solos, e que estava num vaso sem nenhuma estética nem interesse para mim, mas que já sabia que é uma planta que resulta muito bem em bonsai porque tem a folha muito pequena e dá uns pequeninos frutos. 

Cotoneaster horizontalis

Fui-lhe dando várias podas mais drásticas, e por estes dias resolvi transplantá-la, fazendo um verdadeiro desbaste nas raízes. Há falta de vasos de bonsai, coquei-a mesmo num antigo recipiente plástico, estando agora com este aspeto:

Cotoneaster horizontalis
Tenho outras árvores que espero conseguir fazer alguma coisa com elas a nível de bonsai. Um sobreiro que tenho desde semente recolhida no monte:


Sobreiro (Quercus suber)

Escallonia Rubra que arranquei da sebe e que espero que vingue:


Laranjeira que nasceu espontaneamente:


E ainda tenho mais umas quantas arvorezinhas para ir brincando ao bonsai. No fundo não precisamos de ir a uma loja gastar bastante dinheiro num bonsai - é verdade que também se compram bonsais nas grandes superfícies por 10€ - mas a verdade é que também esteticamente pouco interesse têm, por isso, por que não, nós mesmos, tentarmos criar os nossos próprios bonsais? Podem não ficar muito bonitos ao início é verdade, mas aos poucos vamos melhorando e passados uns anos podemos dizer à família ou amigos "este bonsai fui eu que o criei". Vivemos num mundo de consumismo, de querer tudo no imediato, as pessoas querem, compram, já têm e depois deitam fora. No mundo do bonsai é preciso paciência, tal como o Mr. Miyagi ensinava no filme, para termos o bonsai ambicionado hoje devíamos ter começado há dez anos atrás. 

sábado, 26 de outubro de 2013

Tempo de medronhos

O medronho é o fruto do medronheiro, arbusto muito comum aqui na zona onde vivo, principalmente na encosta íngreme que desagua no rio que está recheada deles. Mesmo depois da serra ter ardido há uns anos, eles arderam mas rebentaram novamente e creio que esta espécie é relativamente comum por todo o território.

Medronheiro

Arbutos unedo
Os ingleses chamam-lhe "árvore dos morangos" (Strawberry tree) provavelmente pela semelhança da textura dos dois fruts.

Medronhos

Eu acho que o medronheiro é extremamente decorativo e podia e deveria ser mais usado nos nossos jardins, porque, pelo menos por aqui por estes lados, não conheço ninguém tenha, só mesmo no monte. E todo ele é interessante desde a cor e textura do tronco, as folhas, os cachos de flores e os frutos, que vão criando ao longo do ano uma variação cromática, passando do verde ao laranja e depois no outono, em que apresentam este vermelho vivo.

Tronco do medronheiro

Abelha nas flores de medronheiro

Tem ainda a vantagem de ser uma espécie nativa, logo, perfeitamente ambientada ao nosso clima, não precisa ser regado nem é propenso a grandes doenças. Por outro lado, a presença de um medronheiro atrai mais vida ao jardim pois providencia alimento aos pássaros no outono e inverno, e é mais uma fonte de biodiversidade.

Os frutos, os medronhos, têm ainda muitas outras utilidades e aplicações. Sempre ouvi falar da aguardente de medronho famosa por terras algarvias, mas os frutos também são comestíveis crus e são ricos em vitaminas e antioxidantes. Sobre a ingestão de medronhos causar embriaguez já ouvi teorias distintas, por um lado especialistas e algumas pessoas como um tio meu, que os comem, afirmarem que isso é mito, mas uma pessoa mais velha já me relatou que certa vez encheu a barriga de medronhos e chegou a casa bêbado, logo ele que não bebia bebidas alcoólicas. De qualquer das formas, mito ou não, por alguma coisa os romanos lhe terão chamado Arbutos unedo, em que unedo significava "comer só um". Mas o medronho além de poder ser comido cru, pode ainda ser usado na culinária de diferentes maneiras como por exemplo tartes ou compotas. O medronheiro é ainda muito apreciado pelos apicultores, pois o pólen das flores produz um mel de grande qualidade. 

Eu fiz algumas tentativas de arranjar esta espécie, com recurso a transplantes do monte mas a coisa não correu bem, talvez por incompetência minha, e então acabei por mudar de método, e que diga-se, se mostrou extremamente eficaz: por semente.

Para propagar medronheiros por semente, primeiro, como é lógico, temos de recolher os frutos. Eu apanho sempre os frutos caídos no chão, pois já estão bem maduros, alguns até já meios desfeitos. Esta é a parte fácil, o difícil vem a seguir, que é separar as sementes da polpa dos frutos. Estando os frutos bem maduros, basta passar um colher por cima, sem exercer grande força para ficarmos com toda aquela polpa. Depois é ter o trabalho de muita paciência de separar as sementes.

Polpa de medronhos

Sementes de medronheiro

Depois de recolher as sementes, deixei-as a secar por uns dias, e coloquei-as de imediato na terra, não estratifiquei, deixando, como se aconselha por dois meses no frigorífico, nem esperei pela primavera para fazer a sementeira. Não, achei que deveria, depois de as ter secas, colocar na terra e esquecer-me delas, afinal na natureza ninguém pega nas sementes e as vai colocar no frigorífico não é? O que é certo é que passado algum tempo já tinha minúsculas plantas, que ao princípio até pensei se não seriam ervas, mas não, eram mesmo pequenos medronheiros a nascer!

Sementeira 

Transplante para recipientes individuais

Pequenos medronheiros com cerca de um ano

Ainda intimamente ligado ao medronheiro está a Borboleta-do-medronheiro (Charaxes jasius) que é a maior borboleta diurna que se pode encontrar no nosso país. A vida desta borboleta depende totalmente da existência deste arbusto, pois é nos medronheiros que colocam os seus ovos e as larvas alimentam-se em exclusivo das suas folhas. Se por algum motivo deixassem de haver medronheiros, também deixaríamos de ter esta borboleta. É curioso porque eu acho que ainda não vi nenhum exemplar desta borboleta, mas tentarei estar atento, e quando a encontrar certamente que falarei dela aqui.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Os piscos estão de volta

Uma das aves mais simpáticas dos nossos jardins é o Pisco-de-peito-ruivo (Erithacus rubecula), uma pequena ave facilmente reconhecível por ter a face e o peito alaranjado. No inverno passado tive a companhia de, pelo menos um, que aos poucos ia tolerando a minha presença e até se aproximava deixando-se fotografar de perto. Entretanto as temperaturas aqueceram, e deixei de o ver, porque terá rumara a outras paragens.

Hoje, vislumbrei de novo um pisco escondido na tangerineira, sendo provavelmente a mesma ave que me fez companhia há um ano atrás. Deixo aqui algumas fotografias da simpática ave, muito comum nos nossos jardins:

Pisco-de-peito-ruivo 





Acrescentar que pela plumagem é impossível distinguir o macho da fêmea. A base da sua alimentação são insetos, aliás vejo-os sempre a remexer no chão, mas segundo pesquisei, alimentam-se também de frutos e bagas.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Ponte de Lima - Festival de Jardins

Desde há muitos anos que me lembro de visitar Ponte de Lima, a vila mais antiga de Portugal. É sempre muito agradável passear pelo centro histórico, atravessar a ponte romana com uma bela vista sobre o rio e descobrir na outra margem os jardins temáticos do Parque Temático do Arnado e poder ainda passar pelo museu rural.


Neste parque além dos jardins temáticos - romano, labirinto, renascença e barroco - podemos ainda encontrar uma estufa e vários elementos rurais, como por exemplo as ramadas de videiras e o espigueiro. 







Mas Ponte de Lima é também agora conhecida pelo seu Festival Internacional de Jardins. Creio que a primeira vez que estive no festival de jardins foi em 2010 e repeti em 2011. No ano passado também queria ter ido mas fui adiando e depois acabei por não ir. 
E foi por estes dias que lá estive este ano - em dia de feira municipal e tudo - e na verdade também já não tinha muito tempo para o fazer, pois o festival encera todos os anos no fim do mês de outubro. 



Todos os anos existe um tema diferente. Em 2010 o tema foi o "Caos no jardim".




Em 2011 "A floresta no jardim":


E "Jardim dos sentidos" é o tema deste ano:





Pode visitar o Festival Internacional de Jardins até ao final do mês de outubro, a entrada custa 1€.

domingo, 6 de outubro de 2013

Matar a peçonha da terra

Falei anteriormente como arranjo substrato sem gastar dinheiro, pois por estes dias enchi cinco sacos, mais de 200L de fertilizante natural, rico em potássio e totalmente grátis como convém! 

Já tinha falado também da panca das pessoas por fazer fogueiras, sobre como, apesar de agora termos contentores do lixo e até ecopontos, há pessoas nas aldeias que cismam em queimar plásticos! Mas não só, mal veio a primeira chuvinha em setembro era ver as encostas por aqui cheias de colunas de fumo! Tudo a queimar resíduos orgânicos.
Há umas décadas atrás, quando nos meios rurais se vivia basicamente da agricultura não se queimava nada, era tudo aproveitado, mas agora as pessoas não podem ver uns ramos secos que fazem logo uma fogueira. E ainda por cima já não bastam os incêndios que ainda é preciso libertar mais dióxido de carbono para a atmosfera.

Mas já que as pessoas fazem as fogueiras e o mal está feito, eu (qual maluquinho!) aproveito cinza!


Não é preciso sermos peritos em química ou saber as concentrações de N, P, e K, basta simplesmente observar o que acontece depois de um incêndio, e como rapidamente tudo o que estava preto fica verde de novo. Aliás, acho que é mais realidade que teoria da conspiração que, grande parte dos incêndios em eucaliptais a meu ver são provocados pelos próprios donos, pois é uma forma prática e barata de adubar os terrenos. 

E a cinza não é só rica em nutrientes para o solo, serve também como biopesticida para as plantas, aliás, eu sempre ouvi dizer que "a cinza mata a peçonha da terra". A cinza pode ser utilizada por exemplo para polvilhar o batatal quando as lavas de escaravelho aparecem. É uma forma barata e totalmente ecológica de resolver o problema. 

Agora para usar como fertilizante convém usar com regra, não é por recolhermos uma tonelada de cinza que temos que a aplicar toda de uma só vez. Isto é senso comum, tudo o que faz bem, quando em exagero também pode fazer mal. Eu espalhei um pouco por todo o lado, no relvado, à volta dos troncos das sebes, e nas árvores. 

Comedores de pinhas

Há já algum tempo que me vinha interrogando sobre qual seria o animal que inclui na sua dieta pinhas de pinheiro-bravo, pois encontro muitas nas redondezas com as escamas totalmente comidas. De imediato pensei no esquilo, mas como nunca os vi por aqui, pensei que pudesse ser qualquer outro roedor.  



Costumo vê-los sim mas no Parque Biológico de Gaia que fica a 15Km daqui, umas vezes junto dos comedouros que estão espalhados pelo parque,





outras vezes a saltitar de árvore em árvore. Ainda da última vez que lá estive consegui fotografar um:

Esquilo vermelho ( Sciurus vulgaris)


Mas afinal ontem vi um! Tinha pegado na bicicleta e ir pedalar pela aldeia, e já quando fazia o percurso de volta, e estava a setecentos metros de casa, saí da estrada e entrei por um pequeno estradão de terra batida. Dei a volta e quando me preparava para volta a entrar na estrada principal, do outro lado da estrada lá estava um animal avermelhado com uma cauda farfalhuda quase a fazer lembrar a cauda de uma raposa. Rapidamente trepou por uma árvore acima e deixei de o ver.
   
Após uma breve pesquisa fiquei a saber que o bicho foi dado como extinto em Portugal no século XVI e só regressou nos anos noventa do século passado quando foi avistado no Gerês. Para se saber um pouco mais sobre este pequeno roedor deixo uma pequena reportagem da RTP com o diretor do Parque Biológico de Gaia.